Numa longa entrevista para o caderno Cultura de ZH, em 14 de setembro passado, a escritora santa-cruzense Lya Luft, ao falar sobre a confusão que muitas pessoas fazem entre sua vida particular e a ficção criada – ela ter tido uma infância e juventude “luminosas” e escrever romances “sombrios”, com personagens atormentados – fez com que mencionasse a mentalidade que muitas vezes prospera em certos lugares. Lya diz (página 5) que
“Houve gente em minha cidadezinha [Santa Cruz do Sul] que depois do [livro] ‘Reunião de Família’ não falava mais comigo. [...] Essa visão pequena e ingênua das pessoas ainda me incomodava, mas depois passou. [...] Um dia eu pensei ‘azar, vão se ferrar, não importa’.”
Lya exemplifica o paroxismo disso com o caso de uma parenta sua, que deixou um bilhete, proibindo a escritora de comparecer ao velório da “ofendida”. A parenta supunha que Lya houvesse revelado coisas particulares “terríveis” no romance...
Achei ilustrativo e muito útil para “problematizarmos” esse provincianismo que às vezes somos acometidos (ou submetidos). Não raro, a crítica, mesmo que indireta, a “vacas sagradas” – mitos, “costumes”, personagens da cidade – é visto como uma “traição”.
Bom que haja gente como Lya Luft para nos “socorrer”!
Claro que esse tipo de “condenação” era feita quando a escritora não tinha maiores projeções. Duvido que, agora, alguém se arriscasse. Ela tornou-se uma celebridade – talvez justamente por ter superado ranços de um orgulho xenofóbico e daquela moralidade de cuecas.
*Comentário de Iuri J. Azeredo
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
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