sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Como afastar as pessoas dos livros

*Por IURI J. AZEREDO

Na revista Superinteressante de agosto passado saiu uma entrevista com professor de literatura Pierre Bayard, 52 anos. Ele dá aulas na Universidade Paris 8. Autor de vários livros (ensaios), tem um que está causando furor e virou best-seller: “Como Falar de Livros que Não Lemos”. A coisa toda me pareceu interessante justamente porque vai por um jeito de compreender que eu concordo. E me parece ligado ao que fazemos nos encontros do Sobre Livros e Leituras.

Abaixo, alguns trechos da entrevista (recomendo que leiam a íntegra na revista):

“(...) o mais importante não é ter lido várias obras por completo, e sim saber se orientar, situar o livro e o autor dentro de um conjunto (...). É (...) essa obrigação de ter que ler que nos impede de chegar aos livros. Sacralizamos tanto os livros, o fato de ler e ter que guardar todas as informações e detalhes dos textos, que acabamos morrendo de medo das palavras e, então,... não lemos. Prefiro evitar todo tipo de ‘dever’ ou ‘obrigação’. A leitura é um ato de liberdade. Não há como impor regras a ela.”

“A relação com a leitura é complexa. Entre a leitura e a não-leitura há uma infinidade de graus. Não podemos achar que a leitura da primeira à última linha é a única existente – até porque muitas vezes não fazemos isso. Podemos simplesmente percorrer as páginas do livro, ou ler o título e a orelha, ou então passar os olhos por um ensaio sobre a obra sem nunca tê-la entre as mãos. Um livro também pode entrar na nossa vida e fazer parte dela quando ouvimos falar sobre ele. Ler ou ouvir o que os outros dizem são atitudes que fazem com que tenhamos uma idéia e um julgamento sobre o seu conteúdo. E tudo isso já é uma relação com suas páginas, é também uma forma de ler.”

“Sim [podemos falar de livros que não lemos] (...) Um debate nunca se limita a um livro:geralmente acaba na discussão sobre nossas noções de cultura e literatura. Se eu tiver as mesmas idéias e referências idênticas às das pessoas com quem estou conversando, qual a graça? (...)”

Bayard diz que “o que está verdadeiramente em jogo” – quando falamos sobre livros – é “uma situação de discurso”, ou seja, os assuntos e visões que a obra pode colocar em debate e enriquecer nossos pontos de vista sobre a vida, sobre o mundo.

“Não quero dizer de modo algum que não precisamos dos livros. Eu adoro ler, leio muito e não escrevi um tratado para que as pessoas parem de ler.”

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