Enfim criamos o blog que combinamos no penúltimo encontro do Sobre Livros e Leituras. É para a publicação de textos dos freqüentadores e simpatizante do grupo Econtros Sobre Livros e Leituras. E diferente do outro blog, usado para ajudar na divulgação das atividades do grupo SL&L.
A idéia é que funcione como uma espécie de REVISTA de ensaios, comentários, artigos, contos, crônicas, poesias etc.
Por favor, dê uma olhada e ajude a finalizá-lo. E já dá para mandar suas colaborações para will190565@yahoo.com.br, e-mail do "webmester" (hahaha!!!) do troço.
O título ficou (ao menos provisoriamente) como LITERRATOS...
"Literratos" tem múltiplos sentidos: O primeiro: "Ratos de Literatura".
Assim como há "ratos de biblioteca", há "ratos de literatura", que não vivem sem uma leitura de romance, conto, crônica, fotonovela, Tio Patinhas..."Literratos" tem um pouco de "auto-deboche": gente que não é lá grandes coisas como escritor ou leitor. Ou seja, "rateia" - é um "ratão" nesse vasto mundo dos livros e das leituras.
"Literratos" pode ser lido num tom "francês". Faça um biquinho e diga comigo, como um Proust: "Li...tê...rrá...tôs".
Isso! Muito bem! Palmas!
Pode pedantemente soar com sotaque alemão. Siga as instruções: Incorpore o Goeth que há em você e tente falar em português a palavra "Literatos".
Viu? "Literratos", diria um Goeth, mas se referindo a "aqueles que vivem a literatura, produzem, degustam, falam sobre o assunto".
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Literatura e provincianismo em Santa Cruz
Numa longa entrevista para o caderno Cultura de ZH, em 14 de setembro passado, a escritora santa-cruzense Lya Luft, ao falar sobre a confusão que muitas pessoas fazem entre sua vida particular e a ficção criada – ela ter tido uma infância e juventude “luminosas” e escrever romances “sombrios”, com personagens atormentados – fez com que mencionasse a mentalidade que muitas vezes prospera em certos lugares. Lya diz (página 5) que
“Houve gente em minha cidadezinha [Santa Cruz do Sul] que depois do [livro] ‘Reunião de Família’ não falava mais comigo. [...] Essa visão pequena e ingênua das pessoas ainda me incomodava, mas depois passou. [...] Um dia eu pensei ‘azar, vão se ferrar, não importa’.”
Lya exemplifica o paroxismo disso com o caso de uma parenta sua, que deixou um bilhete, proibindo a escritora de comparecer ao velório da “ofendida”. A parenta supunha que Lya houvesse revelado coisas particulares “terríveis” no romance...
Achei ilustrativo e muito útil para “problematizarmos” esse provincianismo que às vezes somos acometidos (ou submetidos). Não raro, a crítica, mesmo que indireta, a “vacas sagradas” – mitos, “costumes”, personagens da cidade – é visto como uma “traição”.
Bom que haja gente como Lya Luft para nos “socorrer”!
Claro que esse tipo de “condenação” era feita quando a escritora não tinha maiores projeções. Duvido que, agora, alguém se arriscasse. Ela tornou-se uma celebridade – talvez justamente por ter superado ranços de um orgulho xenofóbico e daquela moralidade de cuecas.
*Comentário de Iuri J. Azeredo
“Houve gente em minha cidadezinha [Santa Cruz do Sul] que depois do [livro] ‘Reunião de Família’ não falava mais comigo. [...] Essa visão pequena e ingênua das pessoas ainda me incomodava, mas depois passou. [...] Um dia eu pensei ‘azar, vão se ferrar, não importa’.”
Lya exemplifica o paroxismo disso com o caso de uma parenta sua, que deixou um bilhete, proibindo a escritora de comparecer ao velório da “ofendida”. A parenta supunha que Lya houvesse revelado coisas particulares “terríveis” no romance...
Achei ilustrativo e muito útil para “problematizarmos” esse provincianismo que às vezes somos acometidos (ou submetidos). Não raro, a crítica, mesmo que indireta, a “vacas sagradas” – mitos, “costumes”, personagens da cidade – é visto como uma “traição”.
Bom que haja gente como Lya Luft para nos “socorrer”!
Claro que esse tipo de “condenação” era feita quando a escritora não tinha maiores projeções. Duvido que, agora, alguém se arriscasse. Ela tornou-se uma celebridade – talvez justamente por ter superado ranços de um orgulho xenofóbico e daquela moralidade de cuecas.
*Comentário de Iuri J. Azeredo
Fritz, Frida e o Zé
O Zé Ramalho em plena Oktober reforça o caráter carnavalesco da festa. E mesmo quem não gosta desse evento comercial reforçador de uma visão perversora da teuto-brasilidade santa-cruzense, acho que é uma oportunidade ímpar.
Diz a reportagem que saiu num jornal da cidade em 11/10/2008:
"Pela primeira vez em Santa Cruz do Sul, o paraibano Zé Ramalho promete fazer um show inesquecível, com músicas que marcaram seus 30 anos de carreira."
"O cantor se apresenta no sábado, 18 [de outubro], às 23 horas, no palco principal [no Parque da Oktoberfest, centro de Santa Cruz]."
"Aqui ele apresenta o último trabalho, que define como mais uma etapa do seu percurso como artista, ao partilhar o sabor da criação."
Me chama a atenção os componentes literário-poético e filosófico da MPB de Zé Ramalho. Eis um trecho de uma letra que copiei no site (visite, é bacana!) http://www.zeramalho.com.br/:
"Eu não sou eu / eu sou você / eu sou todos nós / hoje eu mais nada faço / eu somente falo pela tua voz / hoje durante um segundo fiquei a sós / S.O.S. com o mundo / hoje encontrei no fundo do poço meu rosto / e agora posso saber que eu sou eu / eu sou você / eu sou todos nós"
*Comentário de Iuri J. Azeredo
Diz a reportagem que saiu num jornal da cidade em 11/10/2008:
"Pela primeira vez em Santa Cruz do Sul, o paraibano Zé Ramalho promete fazer um show inesquecível, com músicas que marcaram seus 30 anos de carreira."
"O cantor se apresenta no sábado, 18 [de outubro], às 23 horas, no palco principal [no Parque da Oktoberfest, centro de Santa Cruz]."
"Aqui ele apresenta o último trabalho, que define como mais uma etapa do seu percurso como artista, ao partilhar o sabor da criação."
Me chama a atenção os componentes literário-poético e filosófico da MPB de Zé Ramalho. Eis um trecho de uma letra que copiei no site (visite, é bacana!) http://www.zeramalho.com.br/:
"Eu não sou eu / eu sou você / eu sou todos nós / hoje eu mais nada faço / eu somente falo pela tua voz / hoje durante um segundo fiquei a sós / S.O.S. com o mundo / hoje encontrei no fundo do poço meu rosto / e agora posso saber que eu sou eu / eu sou você / eu sou todos nós"
*Comentário de Iuri J. Azeredo
Como afastar as pessoas dos livros
*Por IURI J. AZEREDO
Na revista Superinteressante de agosto passado saiu uma entrevista com professor de literatura Pierre Bayard, 52 anos. Ele dá aulas na Universidade Paris 8. Autor de vários livros (ensaios), tem um que está causando furor e virou best-seller: “Como Falar de Livros que Não Lemos”. A coisa toda me pareceu interessante justamente porque vai por um jeito de compreender que eu concordo. E me parece ligado ao que fazemos nos encontros do Sobre Livros e Leituras.
Abaixo, alguns trechos da entrevista (recomendo que leiam a íntegra na revista):
“(...) o mais importante não é ter lido várias obras por completo, e sim saber se orientar, situar o livro e o autor dentro de um conjunto (...). É (...) essa obrigação de ter que ler que nos impede de chegar aos livros. Sacralizamos tanto os livros, o fato de ler e ter que guardar todas as informações e detalhes dos textos, que acabamos morrendo de medo das palavras e, então,... não lemos. Prefiro evitar todo tipo de ‘dever’ ou ‘obrigação’. A leitura é um ato de liberdade. Não há como impor regras a ela.”
“A relação com a leitura é complexa. Entre a leitura e a não-leitura há uma infinidade de graus. Não podemos achar que a leitura da primeira à última linha é a única existente – até porque muitas vezes não fazemos isso. Podemos simplesmente percorrer as páginas do livro, ou ler o título e a orelha, ou então passar os olhos por um ensaio sobre a obra sem nunca tê-la entre as mãos. Um livro também pode entrar na nossa vida e fazer parte dela quando ouvimos falar sobre ele. Ler ou ouvir o que os outros dizem são atitudes que fazem com que tenhamos uma idéia e um julgamento sobre o seu conteúdo. E tudo isso já é uma relação com suas páginas, é também uma forma de ler.”
“Sim [podemos falar de livros que não lemos] (...) Um debate nunca se limita a um livro:geralmente acaba na discussão sobre nossas noções de cultura e literatura. Se eu tiver as mesmas idéias e referências idênticas às das pessoas com quem estou conversando, qual a graça? (...)”
Bayard diz que “o que está verdadeiramente em jogo” – quando falamos sobre livros – é “uma situação de discurso”, ou seja, os assuntos e visões que a obra pode colocar em debate e enriquecer nossos pontos de vista sobre a vida, sobre o mundo.
“Não quero dizer de modo algum que não precisamos dos livros. Eu adoro ler, leio muito e não escrevi um tratado para que as pessoas parem de ler.”
Na revista Superinteressante de agosto passado saiu uma entrevista com professor de literatura Pierre Bayard, 52 anos. Ele dá aulas na Universidade Paris 8. Autor de vários livros (ensaios), tem um que está causando furor e virou best-seller: “Como Falar de Livros que Não Lemos”. A coisa toda me pareceu interessante justamente porque vai por um jeito de compreender que eu concordo. E me parece ligado ao que fazemos nos encontros do Sobre Livros e Leituras.
Abaixo, alguns trechos da entrevista (recomendo que leiam a íntegra na revista):
“(...) o mais importante não é ter lido várias obras por completo, e sim saber se orientar, situar o livro e o autor dentro de um conjunto (...). É (...) essa obrigação de ter que ler que nos impede de chegar aos livros. Sacralizamos tanto os livros, o fato de ler e ter que guardar todas as informações e detalhes dos textos, que acabamos morrendo de medo das palavras e, então,... não lemos. Prefiro evitar todo tipo de ‘dever’ ou ‘obrigação’. A leitura é um ato de liberdade. Não há como impor regras a ela.”
“A relação com a leitura é complexa. Entre a leitura e a não-leitura há uma infinidade de graus. Não podemos achar que a leitura da primeira à última linha é a única existente – até porque muitas vezes não fazemos isso. Podemos simplesmente percorrer as páginas do livro, ou ler o título e a orelha, ou então passar os olhos por um ensaio sobre a obra sem nunca tê-la entre as mãos. Um livro também pode entrar na nossa vida e fazer parte dela quando ouvimos falar sobre ele. Ler ou ouvir o que os outros dizem são atitudes que fazem com que tenhamos uma idéia e um julgamento sobre o seu conteúdo. E tudo isso já é uma relação com suas páginas, é também uma forma de ler.”
“Sim [podemos falar de livros que não lemos] (...) Um debate nunca se limita a um livro:geralmente acaba na discussão sobre nossas noções de cultura e literatura. Se eu tiver as mesmas idéias e referências idênticas às das pessoas com quem estou conversando, qual a graça? (...)”
Bayard diz que “o que está verdadeiramente em jogo” – quando falamos sobre livros – é “uma situação de discurso”, ou seja, os assuntos e visões que a obra pode colocar em debate e enriquecer nossos pontos de vista sobre a vida, sobre o mundo.
“Não quero dizer de modo algum que não precisamos dos livros. Eu adoro ler, leio muito e não escrevi um tratado para que as pessoas parem de ler.”
Sobre o fim das bibliotecas como as conhecemos (ou Mouse de biblioteca)
*Por IURI J. AZEREDO
Ontem, percorrendo as prateleiras abarrotadas – organizadamente, é claro – de livros da biblioteca central da Unisc, falei assim, meio de súbito – e nem sei bem porquê – com o meu amigo: "O que vai acontecer com isto tudo? Esta montoeira de livros, enormes estantes e tanto espaço ocupado?".
Estava me referindo ao previsível desaparecimento das bibliotecas assim como as conhecemos há séculos – ou, ao menos, a freqüência das pessoas e a forma da guarda dos livros será bastante diferente, suponho. A tecnologia do arquivamento eletrônico e da internet/intranet simplesmente oferecerão nas telas - de PCs, laptops, e-books, celulares, TVs digitais e sei lá mais o quê (ou quem sabe hologravuras, até) – as obras que necessitarmos. E com facilidades, agilidades e outros recursos impossíveis à velha tecnologia de Gutenberg e dos bibliotecários da era do papel impresso e encadernado.
Evidente que restarão a nostalgia e os nostálgicos – como eu! Talvez nos reunamos numa biblioteca-museu ou um clube retrô para juntos procurarmos livros por estandes em corredores estreitos e folheá-los com volúpia, sentindo os aromas, texturas, cores, formas e, mesmo, o pó e as traças, com um ar sentimental, quase desolado e bizarro dos deslocados.
Vejo a biblioteca cada vez mais como um espaço com salas com acesso a internet, onde se plugará (e nem plugues de verdade há) e se baixará os arquivos, manipulando-os através de diversos programas e seus infindáveis recursos de facilitação, ampliação da leitura (hipertextos, imagens, diagramas, filmes etc.), interpretação (dicionários e outras consultas) e reescrita (produção de textos).
Veio-me esta lembrança de ontem lá na biblioteca da Unisc pela notícia que li há pouco em uma ZH de 02/11, que havia separado para "ler depois" (o que às vezes significa colocar na pilha de recortes cada vez mais amarelados). A Google, “maior empresa de internet do mundo" (e isso de negócios “.com” era uma coisa impensável há 15 anos, talvez 10), que tem um projeto chamado Google Boock Serch, prevendo “a digitalização de milhões de livros". Uma acordo com editoras e autores norte-americanos está sendo fechado. "A iniciativa vai expandir o acesso online a milhões de livros protegidos e também a outros tipos de conteúdo disponíveis em bibliotecas dos EUA." Universidades de lá já autorizaram a digitalização de seus acervos, que será disponibilizado pelo procurador Google.
Isso já está acontecendo de outras formas. E a própria biblioteca da Unisc vem aumentando sua "migração" para a dimensão virtual. Como disse, antevejo o fim das prateleiras e dos inseticidas anti-traças, mas as "ratos de biblioteca" com certeza continuarão existindo - nem que seja num Second Life...
Ontem, percorrendo as prateleiras abarrotadas – organizadamente, é claro – de livros da biblioteca central da Unisc, falei assim, meio de súbito – e nem sei bem porquê – com o meu amigo: "O que vai acontecer com isto tudo? Esta montoeira de livros, enormes estantes e tanto espaço ocupado?".
Estava me referindo ao previsível desaparecimento das bibliotecas assim como as conhecemos há séculos – ou, ao menos, a freqüência das pessoas e a forma da guarda dos livros será bastante diferente, suponho. A tecnologia do arquivamento eletrônico e da internet/intranet simplesmente oferecerão nas telas - de PCs, laptops, e-books, celulares, TVs digitais e sei lá mais o quê (ou quem sabe hologravuras, até) – as obras que necessitarmos. E com facilidades, agilidades e outros recursos impossíveis à velha tecnologia de Gutenberg e dos bibliotecários da era do papel impresso e encadernado.
Evidente que restarão a nostalgia e os nostálgicos – como eu! Talvez nos reunamos numa biblioteca-museu ou um clube retrô para juntos procurarmos livros por estandes em corredores estreitos e folheá-los com volúpia, sentindo os aromas, texturas, cores, formas e, mesmo, o pó e as traças, com um ar sentimental, quase desolado e bizarro dos deslocados.
Vejo a biblioteca cada vez mais como um espaço com salas com acesso a internet, onde se plugará (e nem plugues de verdade há) e se baixará os arquivos, manipulando-os através de diversos programas e seus infindáveis recursos de facilitação, ampliação da leitura (hipertextos, imagens, diagramas, filmes etc.), interpretação (dicionários e outras consultas) e reescrita (produção de textos).
Veio-me esta lembrança de ontem lá na biblioteca da Unisc pela notícia que li há pouco em uma ZH de 02/11, que havia separado para "ler depois" (o que às vezes significa colocar na pilha de recortes cada vez mais amarelados). A Google, “maior empresa de internet do mundo" (e isso de negócios “.com” era uma coisa impensável há 15 anos, talvez 10), que tem um projeto chamado Google Boock Serch, prevendo “a digitalização de milhões de livros". Uma acordo com editoras e autores norte-americanos está sendo fechado. "A iniciativa vai expandir o acesso online a milhões de livros protegidos e também a outros tipos de conteúdo disponíveis em bibliotecas dos EUA." Universidades de lá já autorizaram a digitalização de seus acervos, que será disponibilizado pelo procurador Google.
Isso já está acontecendo de outras formas. E a própria biblioteca da Unisc vem aumentando sua "migração" para a dimensão virtual. Como disse, antevejo o fim das prateleiras e dos inseticidas anti-traças, mas as "ratos de biblioteca" com certeza continuarão existindo - nem que seja num Second Life...
domingo, 23 de novembro de 2008
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